sábado, 1 de maio de 2010

madleia em Limoeiro


Um comentário:

  1. -Madleia! Madleia! Madleeeeiiiiaaaaaaa! - poderia alguém gritar acertadamente ao fim desta peça, quando mesmo Madleia estaria no camarim. Alguém de piedade, de dó pelo sofrimento de cada ser adulto que ama e desama outrem. Alguém gritaria Madleeeiaaa... para acorda-la de um êxtase só seu, um prazer ao devaneio, à loucura. Por quê Madleia existe? Talvez pra servir de “espelho” a seu público, para que alguma de suas loucuras possa ser identificada por alguém que a vê e se sinta tão humana como ela, a amar e odiar, talvez “numa mesma oração”. Madléia tem um coração, realmente “triste como um pandeiro, frágil como um brinquedo, forte como um leão”. Há uma tensão permanente onde vai chegar seu devaneio, onde é o apce de sua loucura mas de repente, ela “se pega cantando sem mais nem porquê”. Pouco mais avante ela convence um perdão a seu ser amado, que bem mais parece fictício de sua própria mente para logo em seguida apunhala-lo com veneno, e ainda parece dizer: “é meu preço, não faço por menos”.
    Mas ela, Madleía (leia-se a peça e a personagem) lembra-me um verso de Caetano em “Um índio”, quando aquele que “descerá de uma estrela colorida brilhante” revelará aos povos um exótico surpreendente pelo fato simples de ser óbvio e por está oculto. É assim mesmo, um óbvio oculto as fertilidades do brasileirismo pós-moderno e Henrique Celibi, a meu ver encontrou uma destas coisas ocultas, surpreendentes e óbvias: o imaginário contemporâneo coletivo impregnado de referenciais musicais da mídia, dos mass mídia. Embora não venha a ser seu lastro único, o repertório musical é de fato um óbvio oculto que passa a ser revelado, dialogado com a maestria estética e, em Madleia, às vezes clássica do teatro. Porque não revelar esse mundo imenso de ondas hertzianas que atravessam nossos corpos, alcançam distancias? Não é mais possível ficar sem dialogar com o próprio universo da mídia, porque faz parte do universo mesmo do público!
    Ela, Madleia, avisa a cada um de nós talvez, um interior pulsante que pode eclodir a qualquer momento. E esta busca da compreensão do inconsciente individual ou coletivo não pode ser ignorada por quem quer que faça arte, ou mesmo quem quer alcançar a compreensão da dimensão humana da contemporaneidade, onde está a plenitude humana neste início de século, de milênio? De certo passa por uma compreensão do inconsciente... Caso fosse à Madleia (personagem) inventado um álibi existencial, embora não fosse aceito por psiquiatras ou magistrados, bem caberia a ela a fala de “que minha loucura seja perdoada, porque parte de mim é amor e a outra também” - talvez seja este um diagnóstico universal de todos os loucos e loucas que amam a vida e não suportam ver e viver num mundo “normal” de tanto desamor!
    Mas se você não viu Madléia (a personagem) “desmontada”, não compreendeu o essencial da obra: um artista que a cada encenação enlouquece e se cura em menos de uma hora. Porque, incrivelmente lá está ele após o término da peça: lúcido, consciente que um pouco de si e de nós foi encenado, discutido, e que não há resposta exata para a busca da plenitude humana, talvez a busca seja sim a grande razão do viver (Madleia me parece, além de não se encontrar nem na loucura, nem na sanidade, não quer que ninguém também se encontre, bem sabe ela que não é esta sua função...). É de fato impressionante ver a grandiosidade do talento de Henrique no palco, mas mais ainda pós-palco, quando o que resta daquela louca mal-amada é apenas um resto de maquilagem ou um suor pelo rosto. Ele, Henrique, é bem resolvido teatralmente, Madleía só existe no palco.
    Henrique:
    “foi bom te ver! Saber que você é feliz!”
    abraços,
    Walter Eudes
    Comunicador Social
    Limoeiro-PE
    abril de 2010

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